

'Recuperar' Essequibo, a aspiração da Venezuela com eleição sobre área em disputa
Misael Zapara votará neste domingo (25) na primeira eleição de autoridades venezuelanas em Essequibo, apesar de morar a mais de 100 quilômetros do território em disputa com a Guiana.
A Venezuela escolherá o governador, legisladores regionais e oito deputados do Parlamento que representarão o território de 160.000 km² cuja soberania reivindica há mais de um século.
É uma eleição simbólica, como também será a autoridade dos cargos eleitos, pois não há centros de votação em Essequibo, região administrada pela Guiana, e os 21.403 eleitores vivem no estado vizinho de Bolívar.
"Merecemos recuperar nosso Essequibo", disse Zapara, residente de El Dorado, uma localidade às margens do rio Cuyuní, que se estende até o território em disputa e faz parte da fronteira atual.
- 100% da Venezuela -
El Dorado é uma das localidades de Bolívar que votarão para definir as autoridades de Essequibo.
É um povoado de ruas abarrotadas de motos barulhentas e que gira ao redor do ouro, que também é o método mais comum de pagamento.
Os cartazes da campanha do candidato chavista a governador, o ex-comandante da Marinha Neil Villamizar, podem ser vistos em lojas e casas comunitárias. Ele usa um uniforme militar e uma foto do presidente Nicolás Maduro e de seu ministro do Interior, Diosdado Cabello, complementa a propaganda.
"Minhas aspirações são que ganhemos, que tudo seja resolvido e que tenhamos nosso Essequibo", insiste Yarisney Roa, 48 anos, líder comunitário.
"O Essequibo é 100% da Venezuela", concorda José Tobías Tranquini, 48 anos, que trabalha nos setor de mineração. "Eles querem ficar com essa terra e não podem". "É necessário votar, eu pelo menos vou votar, não sei os demais", acrescenta.
A maior coalizão opositora da Venezuela pediu o boicote das eleições, nas quais serão eleitos 24 governadores e 285 parlamentares, por considerar a última eleição presidencial, na qual Maduro foi proclamado vencedor, fraudulenta.
Uma ala dissidente da oposição, no entanto, decidiu participar.
- "Anexar" -
A Guiana rejeita a eleição. O presidente do país, Irfaan Alia, a qualificou de "ameaça", mas também considera que faz parte da "propaganda" venezuelana.
Seu governo pediu à Corte Internacional de Justiça (CIJ) que ratifique as fronteiras estabelecidas em um documento de 1899, mas a Venezuela cita o Acordo de Genebra assinado em 1966, antes da independência da Guiana do Reino Unido, que anulava esta decisão e estabelecia as bases para uma solução negociada.
A disputa centenária ganhou força após a descoberta de enormes reservas de petróleo pela americana ExxonMobil em 2015.
A Venezuela celebrou um referendo interno para impulsionar a criação do estado da Guiana Essequiba em meio a tensões com seu vizinho, que denuncia uma tentativa de "anexar" dois terços do seu território.
A votação deste domingo segue a estratégia de Caracas de reivindicar essa região também rica em recursos minerais.
- "Desenvolvimento progressivo" -
Tumeremo, também em Bolívar, foi designada como a capital provisória da entidade recém-criada.
Seus habitantes, no entanto, não votam. O distrito eleitoral inclui as cidades de 88, El Volcán, Kamaria e San Martín de Turumbán, esta última na fronteira de fato, a 121 km por estrada de El Dorado.
Rafael 'Chino' Velásquez, cronista de Tumeremo, um promotor da luta da Venezuela para recuperar Essequibo, diz que está feliz com as eleições, embora ele não possa votar.
"Estamos a um passo de Essequibo ser um território que apareça no mapa venezuelano", disse o homem de 81 anos, que reconhece o problema geopolítico. "A Guiana disse que não cederia um milímetro, nem um centímetro, à Venezuela".
Além de Essequibo, os eleitores também esperam que o foco leve mais dinheiro para essas cidades mineradoras historicamente negligenciadas.
"Seremos um estado e, em consequência, teremos uma situação constitucional (alocação de recursos) para que possamos sair dessa situação rural", aspira Alirio Páez, um soldador e mecânico de 68 anos.
"Mudanças que precisam acontecer para o desenvolvimento progressivo, como determina nossa Constituição", acrescentou.
U.Krause--NRZ